E lá estava ela. Quieta, quase que fora do mundo real, imersa em seus mais profundos pensamentos. Sentada sozinha naquela praça ninguém dizia o quanto já havia sofrido por amor. Tão jovem, tão bela, tão bem vestida. Moça de família, certamente. Com ar de mistério, compaixão, fracasso, desânimo e dor. Mas o que doia era o seu coração. Doia, pois amava alguém que não tinha mais ao seu lado, vivendo sua vida, pensando seus pensamentos, sorrindo seu sorriso, olhando seu olhar.
O olhar que antes era vivo, alegre, intenso, com a necessidade de viver e conviver com um ser que a completava. Completava não, que a sentia e enxergava de tal forma que nenhum outro jamais sentiu e jamais sentirá, pois não existe mais dentro do seu ser a vontade de amar novamente alguém que em algum momento poderá fazer com que ela passe novamente pelo amargo sabor da perda, da derrota, do vazio dentro da sua alma.
De menina cheia de vida passou a ser uma mulher. Mulher que já não tem mais o brilho de uma verdadeira paixão. Que perdera a alegria de viver. O amor, que antes fazia pulsar com intensidade sua alma, agora a fazia um retalho de alguém que um dia foi. Era um farelo, um pedaço, um resquício de uma criatura que um dia acreditou que o para sempre faria algum sentido.
Mas a vida, agora sem prazer, não tinha mais nenhuma lógica, pois o brilho do olhar tinha sido apagado, tinha sido esquecido, tinha sido abafado por um triste e sonoro "não te quero mais", "não posso mais ficar ao seu lado", "não posso mais cumprir as promessas que um dia, erroneamente, fiz". "Não posso mais te proteger", "não tenho mais como te cuidar", "não posso mais sentir teu coração batendo junto ao meu". As desculpas de que não podiam mais ser o que eram antes minavam seus pensamentos e faziam com que as lágrimas brotassem de tal forma que o pranto se tornasse o seu maior consolo.
E lá estava ela. Quieta, quase que fora do mundo real, chorando e rezando, para que as lágrimas que rolavam por sua face se transformassem em força para conseguir novamente, um dia, voltar a sonhar.